quarta-feira, 1 de maio de 2013

Inspire-nos, Sir Colin Davis!

Nos deixou no último dia 14 de abril um dos representantes da derradeira geração de ouro da regência, Sir Colin Davis, aos 85 anos.

Minha relação com ele é bastante antiga, fui apresentado ainda na era do LP, quando, durante o auge da adolescencia, fiz do Le sacre du printemps meu hino da revolta. Música bárbara, pesada, selvagem e irresistível, nunca conheci melhor versão do que a que Davis gravou com o Concertgebouw de Amsterdam em 1977, tanto em regência quanto em sonoridade. 

Depois, Berlioz: Davis foi o primeiro a gravar sua obra completa, e fez conhecer a todos da minha geração as sutilezas do pai da orquestração como nenhum outro, abrindo as portas para obras pouco conhecidas. Até hoje não me canso de ouvir sua versão de Harold en Italie com Nobuko Imai. Um marco na discografia de Berlioz.


Meu primeiro artigo publicado num jornal foi sobre sua breve passagem pelo Brasil, com a Staatskapelle Dresden em julho de 1995, em que fui honrado com a missão de escrever para a Folha de S.Paulo uma apresentação, com o resumo de sua vida. Nesta época trabalhava no Banco de Dados, mas sempre fazia visitas à redação da Ilustrada, e, sendo cara-de-pau, acabei sobrando para escrever (uhu!!)

E nesta pesquisa é que fui descobrir: foi malogrado entre seus colegas do Royal College of Music porque era o único que frequentava as classes de regência sem saber tocar piano. Seu instrumento era a clarineta. Como nada é por acaso, seu talento nato foi reconhecido numa peripécia que muitos considerariam sorte: apesar de desdenhado como maestro, teve que substituir às pressas Otto Klemperer numa apresentação do Don Giovanni, e este, meio sem jeito, foi seu triunfante début.

Aclamado mas pouco festejado, tinha como maior virtude a naturalidade da interpretação. Não se prendia a leituras dogmáticas, deixava sua batuta livre e com isso conseguia percorrer com destaque compositores tão diversos como Mozart e Stravinsky. 

Detalhes à parte, digo que, para mim, seu estilo claro, polido e honesto de reger vai deixar saudades. 

Abraços



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